Tatuagem e Responsabilidade
- Nelson Tedesco
- 12 de set. de 2023
- 2 min de leitura
A Base da compreensão do Caminho da Tatuagem é a percepção de que o corpo humano é de fato um Templo, e dentro desse espaço de carne habitam histórias, memórias, mistérios, sonhos, uma Consciência.

*entrega das oferendas para receber as Sak Yants do Arjann Neng na Tailândia
Esse habitante do veículo-corpo tem diante de si um caminho a ser percorrido em direção à absoluta lucidez que se desenvolve à medida que são alinhados Mente, Corpo e Fala.
O que eu penso é benéfico ou autodestrutivo? O que sai de minha boca contribui para o florescimento da sabedoria que há em mim em meus semelhantes? Meus atos cultivam um mundo interno e externo fértil às virtudes humanas?
Diante deste complexo a Tatuagem entra como um poderoso aliado simbólico a lembrar-nos de nossa verdadeira Essência e seus aspectos naturalmente virtuosos. Marcar um corpo com consciência é trazer a responsabilidade para conosco e com os mundos.
Nesse ato, o indivíduo passa por um rito de passagem de dor, sangue e principalmente morte, não de si, mas de velhos padrões, diante da qual tem a oportunidade de deixar morrer dentro de si as percepções que já não mais contribuem para sua caminhada. A agulha se faz espada a cortar os véus de ignorância, permitindo que enxerguemos com mais lucidez a nós mesmos e o mundo ao nosso redor. Passa-se a Saber para além do intelecto, mas através do corpo, das sensações, e uma vez que o símbolo está na pele, não há mais retorno.
Isso realça a responsabilidade para com o que se tatua, como se tatua, com quem se tatua, onde se tatua e por que se tatua. Imprimir no corpo um desenho qualquer por mero modismo ou estética vazia fundamentados em desejos inconscientes de pertencimento pode trazer arrependimentos desnecessários à mente de quem Caminha.
No contexto ancestral, a tatuagem era entregue à duras custas, sendo necessário ter passado por situações de risco, testes e afins, trazendo à mente de quem ia recebê-la o senso de força que havia dentro daqueles símbolos. Com isso havia a certeza absoluta de que aquele que a fosse receber estava plenamente preparado para acessar aquele aspecto de sua Essência e responsabilizar-se pelos poderes desenvolvidos durante sua Iniciação.
Ainda que nos tempos modernos não haja a necessidade de se caçar um tigre ou vencer um combate corpo a corpo para receber os símbolos no corpo, o processo de tatuar com consciência não se difere do ancestral. Durante o ato podem ser desencadeados processos de expurgo mental, físico ou emocional através da dor ou de reações físicas. É como se certas forças estivessem a "sair do corpo" para dar lugar às Virtudes inerentes ao indivíduo, trazendo um poderoso senso de parir uma nova versão de Si.

*Arjann Neng abençoando a Sak Yant feita em minhas costas
Tomar a decisão de fazer uma tatuagem, é tomar a decisão de deixar ir embora aquilo que não nos serve mais para abrir espaço para Autopossessão (falaremos disso em posts futuros) e responsabilizar-se verdadeiramente pelos símbolos que se coloca nos mundos (Interno e Externo). Em última escala: demanda Maturidade.
Um beijo em seu coração-essência,
Nelson Tedesco - Artista e Fundador da Fluxo Livre.
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